terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O que você procura?



Caminhava cabisbaixo e ligeiro... parecia procurar algo.
- O que você procura menino?!
- Procuro uma razão pra não morrer, disse o cabisbaixo menino.
- Mas... você caminha muito rápido! Difícil encontrar algo!
-Por que você caminha ligeiro menino inquieto?!
-Caminho ligeiro porque já não se sinto parte de nenhum lugar. Carrego uma saudade profunda, mas não sei de que... parece que perdi algo que não consigo encontrar...
Caminhava saudoso o cabisbaixo ligeiro menino.
- Ei, menino!! Procurar com a razão uma razão pra não morrer, não parece muito razoável.
- A razão tornou-se uma ilusão, talvez, por isso não tenho mais razão pra viver, disse o ligeiro menino.
-Ei, menino sem razão! Vai embora pra onde?!
-Sinto-me fruto de um erro, talvez, por isso passei minha curta vida procurando acertar... eu, um erro! Disse o ligeiro, cabisbaixo, saudoso menino que procurava uma razão pra não se matar.
O menino viu que as pessoas grandes que caminhavam a sua frente se desviavam de algo que havia no chão. O menino parou de ser ligeiro... viu que havia uma poça d`água no chão. Parou para olhar aquela poça d`água tranquila e escura que parecia profunda... refletia um pedaço do seu rosto, um pedaço do céu e um pedaço de um lampião apagado.
Abaixou-se e escreveu com a ponta do dedo seu nome – menino – sobre a água que se transformou em pequenas confusas ondas que misturaram os pedaços do lampião, do céu e do seu rosto...
- Agora, disse o menino, encontrei o que procurava!


Franklin
03 de fevereiro de 2013

sábado, 24 de novembro de 2012

"Fra-casso"


Quando, algumas vezes, sentimos um ligeiro

Contentamento com o “fracasso” do outro!

O outro que desistiu... mudou de caminho...

Não foi “capaz”...

E nos sentimos, assim, melhores e mais fortes

Daqueles que “fracassaram”...

Matamos a fome da nossa insegurança

Com “os restos mortais” dos sonhos alheios!

Somos abutres famintos!Urubus que espreitam!

Mas...abutres ou urubus também morrem...

Franklin

sábado, 3 de novembro de 2012

Nas Igrejas em Roma...




Um ouro vermelho manchava as paredes da História.

Vermelho sangue dos povos esmagados

pela “civilizante Europa”

Ecoavam agônicos gritos dos negros escravizados...

Um arrepio tomou minhas costas.

Das espoliadas costas d´África e d´América, havia ali,

também, memória.

Docemargo – doce amargo –ambíguo sabor d´outrora.

O cheiro do incenso que subia em fumaça tentava

esconder a verdade d´agora.

Gritei indignado: e... dEUs?!!!!

EU não tive resposta!


Franklin

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Um Espaço... basta!


Qual é o meu espaço? O que fazer com o meu espaço? Se eu não “ocupar” o meu espaço quais serião as consequências? Que faço para “ocupar” o meu espaço? Quando os outros me dizem que este não é o meu lugar/espaço que faço? Quem me diz que este não é o meu espaço? Por que me dizem tal coisa? Por que não quero aceitar que eu tenho um espaço?
“Da minha angústia eu chamei o Senhor, e o Senhor me respondeu colocando-me num lugar espaçoso” grita o salmista/poeta (Sl 118,5). “Do meu lugar estreito eu chamei e o Senhor me respondeu colocando-me num lugar espaçoso” pode-se ler no original hebraico. Em algumas traduções se lê “o Senhor me salvou”. Se lêssemos o original veríamos que o Senhor nos salva colocando-nos num lugar espaço que é Ele mesmo! O Senhor nos salva, o Senhor nos coloca ou nos dá um espaço... O espaço é um dom?!
Começo a entender que pecado/morte pode significar não dar espaço! E, também, não “ocupar” o espaço que nos foi dado. Mas... por que será que temos esta tentação de ocuparmos todos os espaços ou o Espaço? Por que será que nos incomodam tanto as pessoas “espaçosas”?
Do meu lugar apertado gritei ao Senhor e Ele me deu espaço, diz o poeta! Começo a entender que amar pode significar, também, ouvir o grito do outro e dar-lhe espaço!
Eu desejo um espaço! Sim um espaço...
Um espaço onde eu possa ser eu mesmo!
Longe da esmagadora desconfiança alheia!
Um espaço onde eu possa dançar, sem máscara, este baile de máscaras: a vida!
Sem o adstringente olhar do outro!
Um espaço onde eu possa ver o outro sem máscaras. Despido dos seus medos e receios.
Longe do sufocante juízo dos outros!
Só queria um espaço! E... mais nada!
Vou continuar gritando ao Senhor... até que eu consiga entender com o coração que já estamos n´Ele que é o Lugar/Espaço e que isto basta!


Franklin

domingo, 22 de julho de 2012

Partes

Queria tudo?
Fiquei sem nada!
Agora, estou aprendendo a viver com o pouco.
Fazendo deste pouco um muito, dividindo-o com os outros.
Vejo que o meu pouco, também, se torna muito
Acolhendo o pouco que é o outro.
O outro que não é tudo, mas partes.
E partiu para longe... para depois voltar
Em partes desiguais... diferentes cores e sabores...
Para me lembrar que também sou partes
E não o todo.
Qual bobo louco eu queria o todo...
Descobri-me partes.

Franklin  22/07/2012

sábado, 7 de julho de 2012

Antes que Jean-Pierre volte...





Meu companheiro jesuíta, Jean-Pierre Sonnet, viajou e deu-me a chave do eleva-dor para que eu possa desliga-lo e liga-lo nos horários importantes para o descanso: 22h30 às 07h30 e 14h30 às 15h30! É que o eleva-dor, que dá acesso ao nosso andar, faz muito barulho!
Jean-Pierre, um grande poeta, deixou-me, gentilmente, um bilhete e uma chave na porta do meu quarto com o seguinte recado:
“Dear Franklin, here is the key of the silence!” (Eis a chave do silêncio!)
O restante do bilhete não me parecia ter mais importância! A primeira frase saltou-me aos olhos: “... the key of the silence!
Passei grande parte de minha vida no “silêncio”. Não sou muito de falar... fazer barulho...
Agora... ganhei a chave do silêncio!!!
Lembrei-me do silêncio de Deus... que muitas vezes nos perturba tanto!
Lembrei-me do barulho dos seres humanos... que muitas vezes nos perturba tanto!
Agora... eu tenho a chave do silêncio!!!
Sabe o pior? Não sei o que fazer!!!
Meu silêncio interior, já quebrado a esta altura, indagava-me:
- Chave do silêncio?! Chave que faz silêncio?!
- Não seria a PALAVRA a fechadura?!!
- Não seria a CHAVE o silêncio?!!
Ó SILÊNCIO... Que PALAVRA-CHAVE!!!
Por favor, ajudem-me! Digam-me... o que faço?!
Antes que Jean-Pierre... volte da viagem!

Franklin
(Roma, 08 de julho 2012 - com as janelas, do quarto e da alma, abertas... escutando os “os barulhos” de Roma e do tempo!)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Rua sem saída

Morava numa rua sem saída!
Parecia-me monótona... sem perspectiva...
Um dia caminhei até o fim e voltei, na minha rua sem saída.
Então descobri: há saída!
Senti-me idiota por fazer uma descoberta tão banal:
a saída... é a entrada!
Fui e voltei sobre o mesmo chão, tornei minha rua reflexiva!
Fui e voltei sobre os mesmos nãos, tornei minha vida uma ferida!
Então, encontrei a saída.

Franklin